Lembra da primeira vez que você viu o seu amor?
Lembra da última vez?
Se a primeira vez foi saborosa como morder o petisco que você adora e a última foi igual a mastigar uma fruta de cera, o hábito te pegou. E, enfeitiçado por ele, todo mundo acha trivial esse acostumar-se com o outro, com as coisas, com os dias:
“É assim mesmo, fazer o quê?”
Resistir.
Desacostumar-se.
Reinventar o olhar.
Recriar os jeitos.
Fabricar novas primeiras vezes.
Desafiar-se como se isso fosse importante.
Porque é.
Lembra da primeira vez que sentou ao volante? Como o coração batia forte, como você tinha os olhos arregalados, como era todo atenção, como a primeira aventura pilotando pareceu demorar horas e gravou-se na sua memória a ponto de você lembrar agora?
E da centésima-décima-quarta vez, você lembra? Teve coração batendo, olho brilhando, atenção atenta? E não parece ter sido tão rápida essa aventura – que nem foi uma aventura, foi só uma saída de carro – que você nem lembra dela?
É o feitiço do hábito que encurta o tempo.
Ele enfraquece o coração, deixa o olho opaco, nos torna desatentos, sempre com o pretexto de que amanhã… no próximo fim de semana… nas próximas férias…
Então, da próxima vez que estiver com seu amor, resista, desacostume-se, reinvente o olhar, recrie os jeitos, fabrique uma nova primeira vez, desafie-se como se isso fosse importante.
Ou não é?